É impressionante como as mesmas ideias e os mesmos pensamentos e especialmente memórias idênticas, podem aparecer em cabeças completamente diferentes tanto cultural como geograficamente.
“Há anos que não via um pirilampo, mas os pirilampos que guardava na minha memória emitiam um brilho bastante mais intenso na escuridão do Verão e fora essa imagem resplandecente e luzidia que permanecera comigo durante todo esse tempo.
...
Tentei recordar-me da última vez e do lugar onde vira pirilampos. Conseguia ver essa imagem na minha mente, mas era incapaz de me lembrar do local e da altura.
...
Centenas de pirilampos esvoaçavam sobre a poça de água retida pela comporta e o seu brilho intenso reflectia-se na água como uma chuva de centelhas.”
Haruki Murakami – excerto do livro “Norwegian Wood“
Os pirilampos foram para mim enquanto criança criaturas mágicas, prova viva que as fadas e todos os outros seres com elas aparentados existiam entre nós.
As minhas memórias destes pequenos vaga-lumes a quem tantas pessoas chamam de “caga-lumes” remontam ao verão de 1967, tinha eu então 4 anos de idade.
Tendo ido para uma colónia de férias perto de Sesimbra, acabei por sofrer extensas queimaduras nas pernas e costas por acção do rebentamento de uma bilha de gás.
Pese embora os meus pais me quisessem levar para casa, não o conseguiram e por lá fiquei com algumas regalias extra, pois como não podia ir para a praia durante o dia, deixavam-me ficar acordado até mais tarde.
E a noite era fantástica, lembro-me de um grande alpendre de pedra que comunicava com um campo de cereais, acredito que seria trigo mas não o consigo precisar com certeza, que se iluminava todas as noites com a luz de milhares de pirilampos a esvoaçar em tons de verde, laranja e amarelo.
Corria que nem louco entre eles e invariavelmente acabava por encher um saco de plástico que levava comigo para a cabeceira da cama.
Este cenário voltou a repetir-se por muitos verões, não em Sesimbra pois os meus pais nunca mais me deixaram ir para a colónia de férias, mas perto de Matacães, onde costumava passar as férias grandes com os meus avós.
Passados 35 anos não se encontram pirilampos, a última vez que os vi foi há mais de 10 anos perto da Praia Grande em Sintra e eram apenas dezenas ao contrário das centenas ou milhares que me lembro da minha infância.
Tenho pena... pena por mim, que já não os consigo observar, mas especialmente pena pelos meus filhos que nunca irão ter o prazer de fazer lanternas de “caga-lumes”.
E a Sininho? Como é que vou convencer o mais pequeno que ela existe sem nunca lhe poder mostrar um prado iluminado por pirilampos a voar?...
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
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3 comentários:
Estávamos em Maio, o mês do terço. eu tinha 5 anos e a minha vizinha perguntou-me se eu queria conhecer a capela. Era de noite, pedi aos meus pais e lá fui. Pelo caminho, uns quantos pontinhos luminosos fizeram-nos companhia.
A partir desse dia, passei a ir todos os dias. O meu pai disse que ao domingo era muito mais interessante porque eles não estavam sempre a repetir a mesma coisa e havia um padre todo enfeitado, mas eu gostava mais de ir à noite, por causa dos pirilampos...
Já viste o filme "Finding Neverland"?
Tens de ver o filme e mostrar ao teu puto. Fala do processo criativo, da origem da Sininho e de outras coisas importantes.
Vou com certeza fazê-lo mas ainda vai ter de esperar alguns anos. Por enquanto ele só gosta mesmo é dos desenhos animados... o processo criativo limita-se a conhecer a Heidi, o Pedro, a Chihiro, o Porco Rosso, a Naushika e o Totoro.
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