terça-feira, 8 de setembro de 2009

gosto deste sítio

Um dos meus livros* preferidos é o dicionário, por isso, sempre que tenho dúvidas (o que acontece com alguma frequência), visito-o. Ora deixa cá ver:

CONTEXTO

s. m.

1. Modo pelo qual as ideias estão encadeadas no escrito ou no discurso.

2. Argumento.

3. Contextura.

Gosto especialmente desta última palavra:

CONTEXTURA

s. f.

1. Tecido.

2. Modo pelo qual a trama e a urdidura estão enlaçadas.

3. Ligação entre as partes dum todo.

4. Entrecho, contexto.

Isto vem a propósito daquela minha tentativa falhada de explicar a minha visão do belo e do mau gosto. Estava a ler o que escrevi fora de mim e realmente não me estava a fazer muito sentido, a ver se consigo exprimir-me melhor desta vez. Lembro-me das discussões que se geravam na sala de aula sobre o mau gosto. Não é fácil chegar a um consenso académico e quando se chega, geralmente é ditado pelo professor e pelos livros. Mas quem disse que tem de haver consenso? Certamente que tudo ficaria mais simples, mas nem por isso mais interessante. O contexto surge aqui como forma de adaptar os conceitos ao meio onde estão inseridos e sobretudo à circunstância particular em que as coisas resultam (ou não).

Eu tenho esta necessidade de contextualizar TUDO. Tenho um péssimo sentido de orientação e isso ajuda-me a perceber onde é o norte. E a não ver tudo apenas por um ponto de vista. Não existem pontos de vista isentos, mas sem dúvida que uns oferecem melhores perspectivas que outros. Ando sempre à procura da melhor perspectiva, do melhor ângulo de abordagem.

Não creio que se possa falar disto aqui como “comunicação unilateral”, uma vez que temos sempre hipótese de resposta, por isso é bilateral. Discordo contigo em relação à descontextualização da escrita. Nietzsche é que tinha a mania de o fazer, mas depois voltava a contextualizar. Muitas vezes as coisas escritas vêm ter comigo ainda antes de eu pensar sequer em ir ter com elas. São trazidas por pessoas, por hiperligações aleatórias, das mais variadísimas fontes. Nem sempre é fácil saber qual a intenção do autor ou o porquê da mensagem, mas ela está lá, sobrevive a isso, é capaz de se transformar, mudar de sítio e até de sentido porque o seu CONTEXTO mudou. É uma variável como qualquer outra. Mas é uma variável muito poderosa que não se pode menosprezar.

Claro que podem existir falhas em todo o processo, não só no emissor, no canal escolhido e na mensagem, como também no receptor. Há tantas formas de entender mal uma mensagem que eu acho espantosa a possibilidade de alguém conseguir entender alguma coisa do que se comunica. E pergunto-me muitas vezes se aquilo que eu quero dizer é alguma vez realmente compreendido. Mas não me deixo abater por isso. Comunicar é um processo criativo, há sempre alguma coisa que se inventa, que se interpreta como bem se entende… e depois sofrem-se as consequências.

Entendo o teu ponto de vista, toda a gente tem uma identidade e uma cultura e vê as coisas segundo a leitura que faz através dessas lentes de identidade e cultura. Mas eu teimo em querer espreitar para além disso. Teimo em querer validar todo o tipo de expressões e perceber intenções.

Enfim, acho que me estou a esticar. Antes que me comece a embrulhar, vou terminar as minhas considerações por aqui.

Deixa-me só dizer que gosto deste sítio. Precisa ainda de alguns retoques de pintura e decoração, mas o importante é como se respira por aqui. Não me importa grande coisa o que possam dizer. Podíamo-nos encontrar e falar em qualquer recanto privado, mas gostei desta solução de estar aqui, recolhidos mas à vista de todos, vulneráveis ao ataque por opção. Sim, porque por vezes gosto que me critiquem, especialmente quando o fazem bem e gosto quando consigo melhorar por causa disso.

Gosto deste sítio e irei continuar por aqui enquanto achar que faz sentido por aqui andar.

Sei que ainda tenho as músicas para resolver, mas isso é uma coisa que eu tenho de saborear. Ela há-de acertar-me quando eu menos estiver à espera. Temos de arranjar uma playlist seleccionada por ambos para pôr aqui ao lado…

Pareceu-me bem interessante o teu “Carneiro”, vou ver se o encontro por aí. Acabei ontem de ler “O Isólito Mr. Mee”, gostei bastante. Uma salada de histórias onde se encontra Rousseau misturado com outras histórias intemporais. Gosto de pessoas insólitas, tudo o que foge encantadoramente ao normal. Continuo a ler “The Ethical Slut” – uma espécie de manual para mim, mas não estou com muita pressa em lê-lo, ao contrário do que fiz com os livros do Daniel Sampaio quando era adolescente, mas sinto a mesma sensação, os autores compreende-me e partilho do mesmo ponto de vista deles. Palpita-me que irei revisitar este livro por aqui. Hoje vou começar a ler um livrito sobre uma viagem a África, não me lembro do autor, depois conto.

Giro teres achado piada à DC, ela realmente tem imenso espírito… endiabrado!

Até mais ler,

Sofia

*Neste caso, “livro” tem um sentido muito vasto que pode abranger páginas de Internet com vários tipos de dicionários. Afinal a rede é uma Grande Biblioteca, n’est pas?

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