“
Não é um fim, quando muito é um princípio, ou melhor, um meio. Uma ferramenta. Nem melhor nem pior que outra qualquer, apenas diferente. Estranho será daqui a uns tempos encontrar alguém cujo primeiro contacto não tenho sido feito à distância, através da grande teia.
A
net avança a uma velocidade estonteante, não fecha para balanço. Fazem-se e desfazem-se “amizades” num ápice. As relações esfriam como comida aquecida no microondas e as pessoas pura e simplesmente deixam de dar sinal de vida.
Na “vida real” é muito mais difícil descartar alguém. Muitas vezes, somos obrigados a conviver no dia-a-dia com pessoas de quem não gostamos, é difícil fugir a isso quando acontece no trabalho ou no sítio onde se mora. Mas na
net, basta um simples
click e a pessoa indesejada desaparece definitivamente do mapa. Muitas vezes é por pura indiferença, quando deixa de existir o entusiasmo inicial, é muito mais fácil procurar algo novo do que tentar resgatar o que já existiu.
…
…
… Mas o que vem a ser isso de conhecer alguém?
… Mas será que conhecer presencialmente é conhecer melhor? Será que alguma vez conseguimos conhecer completamente alguém? Será que nos conhecemos verdadeiramente a nós próprios?
”
Antes de me lançar na tentativa de fazer passar a minha visão sobre as questões por ti levantadas no trecho em cima transcrito (vide
Temet Nosce), não posso deixar de fazer alguns comentários à
história (com “
hi” porque burro velho não aprende línguas e eu aprendi assim na escola) que tão bem nos contaste.
Noutra vida, disse-te que te expões demasiado na forma como escreves alguns dos conteúdos que publicas.
Casos há em que escreves de forma crua e directa (é isso mesmo que pretendo – disseste tu!...), quase perdendo a noção de limites, causas e efeitos, uma escrita de desencontro, quem sabe de “provocação”…
Este conto assim… NÃO é!
Talvez motivada pela “musa” do texto, neste teu conto consegues transmitir toda a “tensão e tesão” do “teu caso” (1) , consegues transmitir tudo o que se passou, não passou e poderia ter passado, consegues sem dúvida contar a tua
história (mais uma vez com “
hi”) com a beleza e elegância que sem dúvida ela merece. Pergunto-me quantas vezes a releste, revestes e reinventaste antes da sua publicação?
Dizes a certa altura …
“Às tantas fui eu que me esqueci de me proteger.
Como é que uma pessoa se protege contra a paixão? “
Bem, não penso que nos possamos proteger contra a paixão, aliás não acredito que nos possamos proteger em relação a qualquer sentimento afectivo que possamos vir a nutrir por outra qualquer pessoa.
Podemo-nos no entanto, preparar para as suas consequências e antes de nada prepararmo-nos para nos controlar a nós mesmos, quando tivermos que enfrentar essas mesmas consequências.
O problema não está por isso, no facto de desejarmos, amarmos ou odiarmos, a questão é:
- Estamos preparados para quando isso acontece e “a coisa dá para o torto”?
Eu respondo NIM, nem não nem sim, penso que depende demasiado do momento que atravessamos, das circunstâncias dos acontecimentos e acima de tudo do facto de conseguirmos entender/racionalizar o que na verdade passou ou melhor dizendo, o que não se terá passado.
De volta ao inicio - “esta coisa de conhecer pessoas na net” – continuo sem saber exactamente por onde começar, pois o universo netiano é vasto, denso e em constante expansão, mas se calhar posso falar um pouco da minha história (“história” que mantendo o “hi” agora está em conformidade com o acordo ortográfico).
Quando comecei a trocar conversas no
ICQ achava que era o máximo, de quando em vez “tinha sorte” e lá conseguia marcar um café para travar conhecimento com alguém que supostamente seria do “sexo correcto” (no meu caso feminino) e que poderia ser “idêntica” à imagem que se tinha formado entretanto. Não guardo nem contactos, nem conhecimentos, nem tão pouco me lembro realmente de nenhuma das “musas” destes tempos.
Depois vieram as salas de
Chat, em que da confusão de conversas sem nexo e envios melosos de beijos, abraços, queridos, queridas, amores e carinhos, invariavelmente surgia a marcação de um jantar para confraternização - ele era o SAPO no Porto, o AEIOU em Coimbra, etc. etc. – onde das 152 pessoas inscritas acabavam por aparecer 27, pois os outros ou eram menores de idade e não saiam à noite, ou eram apenas nicks com vida limitada ao espaço protegido do universo netiano, que pelas mais variadas das razões não se queriam ou não se podiam assumir na vida real.
Desta era, ficaram alguns contactos, melhor dizendo desta era, ficaram algumas camas… as boas claro está, pois as outras… bem, como cantavam os “Heróis do Mar” , “
dos fracos não reza a História”…
Desiludi-me, cansei-me e como nos contos de ficção científica, coloquei todos os meus alter-egos
netianos em vida suspensa e “saltei” no “espaço-tempo” até aos dias de hoje… agora!
E o agora é bem diferente, onde antes havia
ICQ, agora temos redes sociais, onde antes havia os
Chats, agora temos os
Blogs, onde antes tínhamos dificuldade de saber com quem lidávamos, agora conseguimos escolher com quem queremos lidar…
É este “novo” poder de escolha que me faz sentir que… assim já quero brincar outra vez!
Em resposta directa às tuas questões:
Conhecer alguém é adquirir intimidade com esse alguém, intimidade que nos irá permitir criar uma imagem, mais ou menos focada dessa pessoa.
Este processo de conhecimento tem, no meu entender, duas variáveis base “a afinidade” e “a proximidade”, ambas variando em conjunto irão determinar o grau de aproximação/relacionamento que se irá estabelecer ao longo do tempo.
Se o conhecimento presencial favorece o processo, acredito que sim, pois só presencialmente (por enquanto…) se consegue uma ligação química… e na minha experiência – entre duas pessoas que se estão a conhecer, ou há química ou então a coisa não anda!
Não quero com isto dizer, no entanto que o conhecimento presencial seja imprescindível para a maioria dos casos, penso mesmo que não o é.
Mas tal como as bruxas, “que las hay las hay”… ver, tocar e cheirar a outra pessoa, “que é melhor, é”!
Finalmente… não sei se li isto em algum lugar, se é apenas sabedoria popular ou se de repente virei filósofo, mas… cada dia que passa surpreendo-me comigo mesmo!
Fica bem,
Zatoichi
(1) Digo “teu caso” e não “vosso caso” porque não é de todo evidente que tenha sido um caso “dela” também…