segunda-feira, 28 de setembro de 2009

otooto



“Todos somos diferentes”, é uma frase à La Palice, mas a verdade é que dentro da diferença há aqueles que se destacam pela positiva e que merecem por isso o nosso respeito, amor e gratidão. A esses costumamos chamar de amigos ou mesmo de irmãos.

Tenho um “otooto” (um irmão mais novo), não é um irmão de sangue mas é como se fosse. No Japão não nos casamos apenas com a nossa mulher, casamos toda a família e assim duma assentada ficamos, com tudo o que isso traz de bom e de mau, a braços com mais um grupo de pessoas que não conhecemos mas que nos consideram como sendo “suas”.

Para nós ocidentais é ao mesmo tempo deliciosamente fascinante e aterrador, vermo-nos forçados a assimilar e a integrar uma cultura milenar e extremamente formal de um dia para o outro… bem mas isso são temas para outras “guerras”.

No meu caso não me posso queixar, herdei um “ser especial”, alguém que já me deu muito e pouco ou nada tem recebido em troca, alguém que só se envolve para ajudar e mesmo assim tenta manter a distância, alguém a quem devo muito mais do que poderei pagar.

E essa pessoa, o meu “irmão mais novo”, o meu “otooto” é para além do mais um artista…

Fotógrafo de profissão, auto intitula-se de “Tunnel Hunter”, tem corrido o Japão “à caça” de túneis para fotografar e expor.

Tive o privilégio de o ajudar na sua última exposição em Kanoya, mas agora vai expor novamente em Osaka.

Deixo-vos aqui o link para que se deliciem com a sua arte.

Ladies and Gentlemen a big applause to my brother Yoichi “Tunnel Hunter” Kirihara

domingo, 27 de setembro de 2009

jardim das rosas

Sou Alfacinha de gema e gosto de acreditar que conheço bem a minha cidade, mas a verdade é que tal como as pessoas que nunca chegamos a conhecer completamente, há sempre algo de novo por explorar, há sempre um cantinho desconhecido à espera de nós.

Fui ao jardim mais famoso da cidade, aquele que todos conhecem (ou pensam conhecer), aquele de que se fala na China, no Japão, no Perú, na América e no resto do mundo, aquele que é visitado por centenas de milhares de pessoas por ano e pelo qual eu já passei pelo menos 400 vezes, isso se contar uma média de 10 visitas por ano a partir do 6 anos de idade...

Como dizia fui ao jardim mais famoso da cidade e encontrei um cantinho desconhecido, um pedaço que não me lembro de ter visto nas outras 399 vezes que por lá passei, mas que está lá... recatado, escondido, dissimulado, dá impressão que o arquitecto o queria manter só para si, um recanto pessoal onde quase ninguém pára e por poucos reparado... assim é o Jardim das Rosas na Gulbenkian.

Rodeado por árvores e arbustos que o tornam literalmente invisível, aqui se encontram, dispersas por canteiros em função da cor, as únicas roseiras de toda a Gulbenkian, são plantas enormes, trepadeiras que se agarram aos ramos baixos e sobem árvores e arbustos, culminando em esplêndidas e incrivelmente grandes flores brancas e cor de rosa.

É o local ideal para ler um livro, descansar, fugir ao barulho da cidade, meditar, relaxar ou apenas estar sozinho.

Fui lá para praticar Tai Chi mas não sabendo onde ficava, telefonei para obter direcções de quem lá vai vezes sem conta...


- Está, bom dia... já aí estás?
- Bom dia, já cheguei à Gulbenkian mas não sei onde fica o Jardim das Rosas. Podes-me explicar?
- Bem... vamos ver... é difícil... sabes o edifico principal? É atrás.
- Atrás? Onde? Atrás é o anfiteatro...
- Pois, não é aí! É mais entre o anfiteatro e o edifício principal. Olha não sei explicar.
- Tudo bem, até já eu encontro.


Como já disse é um local quase secreto do qual, depois de lá ter estado, fiquei com a impressão que se encontra possuído de estranhas características... os que lá querem ir, fazem-no com dificuldade... os que lá estão, perdem a noção do tempo... os que lá sabem ir, não sabem dizer como se lá chega... os que de lá saem, são seguidos por uma música intrigante...

Passem também por lá, vão ver que vale a pena!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

desenrolar!

para o nó desenrolar
o fio à que cortar
vários rolos ficarão
com diferente dimensão

dos pequenos farás linha
com os grandes farás cordel
usa cor e fantasia
e tece o teu painel

estar “out” não é sozinha
estar “in” não é o céu
estar “mal” não é distância
estar “bem” pode ser adeus!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

enroladita...

... isto vai demorar algum tempo a desenrolar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A13… Life in slow motion...

Costuma-se dizer que a “vida corre em câmara lenta” nos momentos em que nos confrontamos com experiências extremas, em que a nossa vida corre perigo e nos encontramos completamente incapacitados para mudar o rumo dos acontecimentos.

Mas eu discordo!...

Para mim nesses momentos em vez de abrandar, a vida acelera... acelera exponencialmente e é essa mudança de percepção que me dá a sensação de que tudo ocorre de forma mais lenta. É pura e simplesmente uma questão de relatividade.

No entanto, não só eu adoro a expressão Inglesa “Life in slow motion”, como a ideia de uma “vida a correr em câmara lenta”, qual rio indolente que se deixa deslizar sem tempo e sem pressa... é para mim muito apelativa pelo que me vem sempre à cabeça, naqueles dias em que tudo se passa com calma e de feição, em que tudo o que fazemos nos corre bem, em que conseguimos desfrutar a vida com quase tudo e quase nada.

Nesses dias os meus sentidos parecem estar mais alerta e de alguma forma estou mais atento ao que me rodeia, dando comigo a perscrutar o que me é normalmente “invisível”...

Oiço os sons dos insectos que voam em redor, os latidos dos cães há distância, o vento e os outros elementos… paro para ver sombras e nuvens, observo os padrões das folhas, fecho os olhos para sentir o calor do sol e o roçar do vento… em resumo detenho-me, Olhando, Sentindo, Cheirando, Saboreando e Ouvindo coisas que tendo estado sempre lá, nunca por mim tinham sido “vistas” desta forma.

São momentos mágicos, pedaços do paraíso que me caem no colo e que só tenho de estar atento para os sentir chegar e não os deixar fugir.

Ontem fui a Almeirim para uma prova de BTT, segui a A2 em direcção ao Sul para apanhar a A13 no sentido de Santarém pois o “Google Earth” (muito obrigado Google), indicava-me ser o percurso mais rápido… nunca tinha andado na A13 mas logo que entrei naquele tapete bem tratado achei que tinha sido uma boa opção.

Foi uma viagem “in slow motion” à média horária de 160Km/h, onde apreciei o nascer do sol, os pinheiros mansos que nos acompanham por quase todo o caminho, as cores dos campos que se combinam entre amarelos e verdes, as casas de campo há muito abandonadas e das quais em muitos casos apenas restam ruínas, lembranças de um tempo em que se vivia no e do campo e em que as pessoas se permitiam a viver isoladas no meio da natureza.

Cheguei ao meu destino, montei na bicicleta, segui por montes e vales, rolei por areia e pedras, passei um rio, tomei banho, li para fazer tempo, almocei e preparei o regresso a casa.

A magia da manhã tinha-se há muito dissipado, mas o dia estava lindo e mais uma vez na A13 ao rolar naquele tapete encantado com um horizonte de ar refractado feito, a minha “vida abrandou”…

... apaguei o rádio, ajustei o “Cruise Control” para 130Km/h e deixei-me conduzir apenas preocupado em manter a viatura em direcção ao Sul, pois a estrada…

... bem a estrada era toda minha!

“It’s nice to feel the life in slow motion…”

sábado, 19 de setembro de 2009

... e agora Tu!

Memórias de sótãos e mansardas,
Silêncio por sons abafados feito,
Vidros e espelhos embaciados,
Auto-estradas em Novembro,
Cheiro a folhas e terra limpa,
Roupa húmida por enxugar,
Sons de telhas e goteiras,
Sabores de quase nada,
Sensações molhadas,
Músicas de embalar,
Abrigos em beirais,
Praias desertas,
Pingos gordos,
Molha tolos,
Preguiça,
Água,
Eu!...

... e agora Tu!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

chuva!


Desce a temperatura

Escurece o céu

Bate contra a vidraça

Refracta a paisagem num rasto de gotas

Anuncia morna o final do Verão

Uma pitada de chuva

Intensifica o cheiro da terra

Como sal na comida

Escuto-a no calor da cama

Aconchegada, embalada

Pela música da chuva

Enquanto não tenho de enfrentar o inverno.

Começo a sabê-la de cor

Sinto-a

nas pálpebras,

nos lábios,

na ponta da língua!

Vem,

Vem hidratar a terra

Vem regar-me a mente

Vem dizer-me que é tempo de recolher.

A chuva pede-me para chover

E eu escorro com ela

Na dança molhada.


E a ti,

Que te diz a chuva?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

estou a absorver...

... daqui a algum tempo já poderei escorrer.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

onde param os pirilampos?

É impressionante como as mesmas ideias e os mesmos pensamentos e especialmente memórias idênticas, podem aparecer em cabeças completamente diferentes tanto cultural como geograficamente.

“Há anos que não via um pirilampo, mas os pirilampos que guardava na minha memória emitiam um brilho bastante mais intenso na escuridão do Verão e fora essa imagem resplandecente e luzidia que permanecera comigo durante todo esse tempo.
...
Tentei recordar-me da última vez e do lugar onde vira pirilampos. Conseguia ver essa imagem na minha mente, mas era incapaz de me lembrar do local e da altura.
...
Centenas de pirilampos esvoaçavam sobre a poça de água retida pela comporta e o seu brilho intenso reflectia-se na água como uma chuva de centelhas.”
Haruki Murakami – excerto do livroNorwegian Wood

Os pirilampos foram para mim enquanto criança criaturas mágicas, prova viva que as fadas e todos os outros seres com elas aparentados existiam entre nós.

As minhas memórias destes pequenos vaga-lumes a quem tantas pessoas chamam de “caga-lumes” remontam ao verão de 1967, tinha eu então 4 anos de idade.

Tendo ido para uma colónia de férias perto de Sesimbra, acabei por sofrer extensas queimaduras nas pernas e costas por acção do rebentamento de uma bilha de gás.

Pese embora os meus pais me quisessem levar para casa, não o conseguiram e por lá fiquei com algumas regalias extra, pois como não podia ir para a praia durante o dia, deixavam-me ficar acordado até mais tarde.

E a noite era fantástica, lembro-me de um grande alpendre de pedra que comunicava com um campo de cereais, acredito que seria trigo mas não o consigo precisar com certeza, que se iluminava todas as noites com a luz de milhares de pirilampos a esvoaçar em tons de verde, laranja e amarelo.

Corria que nem louco entre eles e invariavelmente acabava por encher um saco de plástico que levava comigo para a cabeceira da cama.

Este cenário voltou a repetir-se por muitos verões, não em Sesimbra pois os meus pais nunca mais me deixaram ir para a colónia de férias, mas perto de Matacães, onde costumava passar as férias grandes com os meus avós.

Passados 35 anos não se encontram pirilampos, a última vez que os vi foi há mais de 10 anos perto da Praia Grande em Sintra e eram apenas dezenas ao contrário das centenas ou milhares que me lembro da minha infância.

Tenho pena... pena por mim, que já não os consigo observar, mas especialmente pena pelos meus filhos que nunca irão ter o prazer de fazer lanternas de “caga-lumes”.

E a Sininho? Como é que vou convencer o mais pequeno que ela existe sem nunca lhe poder mostrar um prado iluminado por pirilampos a voar?...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

mergulho ou tai chi...

fecho os olhos
descontraio,
o mundo cai
o eu acaba,
o mar é ar
o ar é mar,
o peito enche
o peito vaza,
a calma é grande
a mente ampara,
ampara o ser
que quer ser nada,
o corpo voa
não sente nada.

mergulho ou tai chi...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

quando não se sabe do que falar…

Não é frequente, mas de vez em quando fico com o cérebro em branco… nestes períodos não tenho discurso, não tenho vontades e não sei do que falar.

Não há um padrão para o surgimento destes momentos, não há um “gatilho”, não há nenhum evento tipificado que provoque este estado de pura apatia, apenas se estende a partir de um determinado ponto como se dum “nevoeiro” se tratasse e aos poucos vai cobrindo tudo, transformando a paisagem num mar de sombras cinzentas vagamente familiares.

Normalmente durmo, o sono revigora-me e quando acordo… acordo quase sempre para a “normalidade”, mas há dias em que tal não é possível… ou porque trabalho, ou porque tenho coisas para fazer ou ainda porque, simplesmente não me apetece dormir.

Embora esteja a escrever este texto, a verdade é que estou assim… acordei com a sensação que o dia ia ser longo; sai de casa a pensar no que me teria esquecido; fui ao ginásio e executei o padrão diário de forma mecânica mas sem vigor… sentei-me no gabinete mas com o olhar na Avenida…

Foi depois do pequeno-almoço que comecei a sentir o estender do “manto branco”, reagi com um café, mas não é um sopro que pára as nuvens e cedo vi que iria perder a luta.

Sem vontade de ceder, forcei-me a trabalhos dobrados, assinaturas, verificações, validações e aprovações… bem, devo ter feito todas as tarefas chatas que normalmente guardo para o final do dia… há sempre esperança de surgir uma razão para as “empurrar com a barriga” para o dia seguinte…

Mas o dia estava mesmo destinado a ser longo e às 12:20 o telefone tocou…

… a mensagem era curta, o conteúdo denso… tão denso, que num minuto o meu mundo ficou cinzento e nem o almoço com o PC, para por a “escrita em dia”, conseguiu trazer de volta alguma da cor perdida.

São 15:03 e já se sente uma aragem a dissipar as nuvens, mas a paisagem ainda está branca, coberta com um manto de neve salpicado com tufos de cor apenas nos pontos onde as ideias são mais quentes… dormir não posso... bem, vou tomar mais um café…

terça-feira, 8 de setembro de 2009

gosto deste sítio

Um dos meus livros* preferidos é o dicionário, por isso, sempre que tenho dúvidas (o que acontece com alguma frequência), visito-o. Ora deixa cá ver:

CONTEXTO

s. m.

1. Modo pelo qual as ideias estão encadeadas no escrito ou no discurso.

2. Argumento.

3. Contextura.

Gosto especialmente desta última palavra:

CONTEXTURA

s. f.

1. Tecido.

2. Modo pelo qual a trama e a urdidura estão enlaçadas.

3. Ligação entre as partes dum todo.

4. Entrecho, contexto.

Isto vem a propósito daquela minha tentativa falhada de explicar a minha visão do belo e do mau gosto. Estava a ler o que escrevi fora de mim e realmente não me estava a fazer muito sentido, a ver se consigo exprimir-me melhor desta vez. Lembro-me das discussões que se geravam na sala de aula sobre o mau gosto. Não é fácil chegar a um consenso académico e quando se chega, geralmente é ditado pelo professor e pelos livros. Mas quem disse que tem de haver consenso? Certamente que tudo ficaria mais simples, mas nem por isso mais interessante. O contexto surge aqui como forma de adaptar os conceitos ao meio onde estão inseridos e sobretudo à circunstância particular em que as coisas resultam (ou não).

Eu tenho esta necessidade de contextualizar TUDO. Tenho um péssimo sentido de orientação e isso ajuda-me a perceber onde é o norte. E a não ver tudo apenas por um ponto de vista. Não existem pontos de vista isentos, mas sem dúvida que uns oferecem melhores perspectivas que outros. Ando sempre à procura da melhor perspectiva, do melhor ângulo de abordagem.

Não creio que se possa falar disto aqui como “comunicação unilateral”, uma vez que temos sempre hipótese de resposta, por isso é bilateral. Discordo contigo em relação à descontextualização da escrita. Nietzsche é que tinha a mania de o fazer, mas depois voltava a contextualizar. Muitas vezes as coisas escritas vêm ter comigo ainda antes de eu pensar sequer em ir ter com elas. São trazidas por pessoas, por hiperligações aleatórias, das mais variadísimas fontes. Nem sempre é fácil saber qual a intenção do autor ou o porquê da mensagem, mas ela está lá, sobrevive a isso, é capaz de se transformar, mudar de sítio e até de sentido porque o seu CONTEXTO mudou. É uma variável como qualquer outra. Mas é uma variável muito poderosa que não se pode menosprezar.

Claro que podem existir falhas em todo o processo, não só no emissor, no canal escolhido e na mensagem, como também no receptor. Há tantas formas de entender mal uma mensagem que eu acho espantosa a possibilidade de alguém conseguir entender alguma coisa do que se comunica. E pergunto-me muitas vezes se aquilo que eu quero dizer é alguma vez realmente compreendido. Mas não me deixo abater por isso. Comunicar é um processo criativo, há sempre alguma coisa que se inventa, que se interpreta como bem se entende… e depois sofrem-se as consequências.

Entendo o teu ponto de vista, toda a gente tem uma identidade e uma cultura e vê as coisas segundo a leitura que faz através dessas lentes de identidade e cultura. Mas eu teimo em querer espreitar para além disso. Teimo em querer validar todo o tipo de expressões e perceber intenções.

Enfim, acho que me estou a esticar. Antes que me comece a embrulhar, vou terminar as minhas considerações por aqui.

Deixa-me só dizer que gosto deste sítio. Precisa ainda de alguns retoques de pintura e decoração, mas o importante é como se respira por aqui. Não me importa grande coisa o que possam dizer. Podíamo-nos encontrar e falar em qualquer recanto privado, mas gostei desta solução de estar aqui, recolhidos mas à vista de todos, vulneráveis ao ataque por opção. Sim, porque por vezes gosto que me critiquem, especialmente quando o fazem bem e gosto quando consigo melhorar por causa disso.

Gosto deste sítio e irei continuar por aqui enquanto achar que faz sentido por aqui andar.

Sei que ainda tenho as músicas para resolver, mas isso é uma coisa que eu tenho de saborear. Ela há-de acertar-me quando eu menos estiver à espera. Temos de arranjar uma playlist seleccionada por ambos para pôr aqui ao lado…

Pareceu-me bem interessante o teu “Carneiro”, vou ver se o encontro por aí. Acabei ontem de ler “O Isólito Mr. Mee”, gostei bastante. Uma salada de histórias onde se encontra Rousseau misturado com outras histórias intemporais. Gosto de pessoas insólitas, tudo o que foge encantadoramente ao normal. Continuo a ler “The Ethical Slut” – uma espécie de manual para mim, mas não estou com muita pressa em lê-lo, ao contrário do que fiz com os livros do Daniel Sampaio quando era adolescente, mas sinto a mesma sensação, os autores compreende-me e partilho do mesmo ponto de vista deles. Palpita-me que irei revisitar este livro por aqui. Hoje vou começar a ler um livrito sobre uma viagem a África, não me lembro do autor, depois conto.

Giro teres achado piada à DC, ela realmente tem imenso espírito… endiabrado!

Até mais ler,

Sofia

*Neste caso, “livro” tem um sentido muito vasto que pode abranger páginas de Internet com vários tipos de dicionários. Afinal a rede é uma Grande Biblioteca, n’est pas?

domingo, 6 de setembro de 2009

Welcome Back My Friends to the Show That Never Ends...

Welcome Back My Friends to the Show That Never Ends... editavam os Emerson, Lake and Palmer em 1974, o mesmo digo eu em relação ao teu regresso aos nossos diálogos.

Gostei do teu “Pé de Tango”, como te disse apenas falta a rosa vermelha para que a composição esteja perfeita e o possas vender como um postal de Buenos Aires.

De alguma forma fiquei com dúvidas em relação ao que entendes com o CONTEXTO que referes;

Compreendo a tua vontade de “contextualizar” as mensagens que recebes...

Segundo o Budismo...

“Os três vícios físicos são matar, roubar e ter comportamento sexual impróprio. Os quatro vícios verbais são a mentira, a tendência para a discórdia, as palavras cruéis e o discurso incoerente. Os três vícios do espírito são a cobiça as más intenções e os juízos equivocados.”

... no dia-a-dia, se não formos capazes de compreender o contexto das mensagens que recebemos, estamos condenados a fazer juízos precipitados que facilmente se tornam em juízos equivocados.

Não me parece no entanto que isto se aplique a tudo e especialmente a todos os tipos de comunicação; tens o exemplo do nosso caso particular, se por um lado tentamos ter um cuidado especial na percepção e entendimento dos diálogos e textos que trocamos, olhando para todas as vertentes e possíveis contextos, há sempre situações em que temos de fazer perguntas específicas por forma a conseguir formar uma imagem correcta do que o outro quer transmitir...

Ora na maioria dos casos, especialmente quando falamos de textos escritos, a comunicação é unilateral, ao sê-lo limita a tua capacidade de formar uma imagem contextuada do assunto. Se não conheceres o EMISSOR, ficas assim completamente dependente da sua capacidade ou incapacidade de expressão.

Mesmo na comunicação oral, há situações destas... quer sejam “gafes” ou apenas “mal entendidos” a verdade é que, com maior ou menor frequência, sucedem-se episódios em que não nos fazemos compreender correctamente e com isso causamos sofrimento/mau estar nos outros...

Hoje almocei com um grupo de amigos de uma amiga minha, no meio da conversa acho se passou algo assim comigo... “mia culpa” claro está... não disse o que queria dizer, ou talvez o tenha feito mas de uma forma bastante tosca... o problema é que em grupo poucas vezes temos possibilidade de reformular as nossas ideias... nestas ocasiões dava jeito poder parar o tempo e fazer “rewind”...

Em relação aos “gostos e boçalidade”, passa-se exactamente o mesmo, com a diferença que aqui é mais difícil, não só “disfarçar” o mau como “aparentar” o bom e definitivamente não concordo que seja uma questão de CONTEXTO.

Com bastantes reticências, pois é uma análise muito complexa que não estou de todo capacitado para fazer, podemos dizer que uma pessoa é má ou grosseira, tem bom ou mau gosto porque o meio onde foi criada assim a educou, estamos assim a criar um CONTEXTO para o facto dela ser o que é.

Não podemos no entanto criar um CONTEXTO para os critérios que nos levam a considerar uma determinada acção má/boa/grosseira/simpática ou algo belo ou feio, estes são conceitos base em cada sociedade e são-nos passados de uma forma quase genética.

Admito que, sendo conceitos que podem variar de sociedade para sociedade, o que é mau para o “Paulo” poderá não o ser para o “Zatoichi” e vice-versa...

- à laia de exemplo na China é considerado bonito quem tem orelhas grandes, pois é sinal de riqueza, por cá chamamo-lhes “Dumbo”.

... no entanto dentro de uma mesma sociedade os conceitos não deveriam mudar e como tal não deveriam ser passíveis de por em CONTEXTO.

Concluindo, embora concorde que devemos procurar colocar tudo em CONTEXTO, para mim há coisas que não se podem ou pelo menos não deveriam necessitar de serem colocadas em CONTEXTO, nestes casos o problema é do EMISSOR e não da comunicação.

Fui espreitar os links que me enviaste... e achei-os mais ou menos banais excepto o “Diabo no Corpo” da SD, sobre quem diria... “mulherzinha inteligente, né?”.

Tenho estado a ler (aliás estou a acabar...), “Em busca do Carneiro Selvagem” de Haruki Murakami, é um conto simples mas muito interessante e muito bem escrito... recomenda-se!

De seguida vou ler “Norwegian Wood” do mesmo autor... a ver vamos...

Fizeste-me uma pergunta muito difícil de responder, “O valor da vida humana nas sociedades orientais”, e para a qual não tenho conhecimentos suficientes para te responder condignamente...

O Oriente, é muito vasto e as suas civilizações tremendamente mais antigas que as do Ocidente, na verdade em países gigantes como a China e a Índia é necessário um especialista apenas para conseguir listar as línguas e dialectos que se falam por lá.

Os valores básicos das sociedades, entre os quais o Valor da Vida (não só a humana) estão intrinsecamente ligados às religiões praticadas por esses povos.

No Oriente encontramos, Hindús, Budistas, Taoistas, Xintuistas, Cristãos e Mulçulmanos, bem como um sem número de seitas e cultos de caris local, pelo que não é de estranhar que o conceito do Valor da Vida varie da mesma forma.

Há no entanto um outro factor que eu diria, ser neste caso, tão ou mais importante que a religião... a forma como os indivíduos se vêm e se “anulam” em função da sociedade.

No Oriente em contraste com o Ocidente, fomenta-se a negação do EU. O indivíduo e o individual é desvalorizado em prol do grupo e do social. As convenções são mais importantes que as vontades. Os mortos são tão ou mais importantes que os vivos. Os animais e plantas são venerados como divindades...

Respondendo finalmente à tua pergunta... pelos padrões Ocidentais, o Valor da Vida Humana no Oriente pode parecer baixo, no entanto e levando em conta que por lá a Vida Humana está na maioria dos casos ao mesmo nível que todas as Outras Vidas, então eu diria que o conceito se me apresenta como mais justo e correcto.

Fica bem!...

PS: E tu? O que é que andas a ler?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

respostas e mais perguntas

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