Welcome Back My Friends to the Show That Never Ends... editavam os Emerson, Lake and Palmer em 1974, o mesmo digo eu em relação ao teu regresso aos nossos diálogos.
Gostei do teu “Pé de Tango”, como te disse apenas falta a rosa vermelha para que a composição esteja perfeita e o possas vender como um postal de Buenos Aires.
De alguma forma fiquei com dúvidas em relação ao que entendes com o
CONTEXTO que referes;
Compreendo a tua vontade de “contextualizar” as mensagens que recebes...
Segundo o Budismo...
“Os três vícios físicos são matar, roubar e ter comportamento sexual impróprio. Os quatro vícios verbais são a mentira, a tendência para a discórdia, as palavras cruéis e o discurso incoerente. Os três vícios do espírito são a cobiça as más intenções e os
juízos equivocados.”
... no dia-a-dia, se não formos capazes de compreender o contexto das mensagens que recebemos, estamos condenados a fazer juízos precipitados que facilmente se tornam em
juízos equivocados.
Não me parece no entanto que isto se aplique a tudo e especialmente a todos os tipos de comunicação; tens o exemplo do nosso caso particular, se por um lado tentamos ter um cuidado especial na percepção e entendimento dos diálogos e textos que trocamos, olhando para todas as vertentes e possíveis contextos, há sempre situações em que temos de fazer perguntas específicas por forma a conseguir formar uma imagem correcta do que o outro quer transmitir...
Ora na maioria dos casos, especialmente quando falamos de textos escritos, a comunicação é unilateral, ao sê-lo limita a tua capacidade de formar uma imagem contextuada do assunto. Se não conheceres o
EMISSOR, ficas assim completamente dependente da sua capacidade ou incapacidade de expressão.
Mesmo na comunicação oral, há situações destas... quer sejam “gafes” ou apenas “mal entendidos” a verdade é que, com maior ou menor frequência, sucedem-se episódios em que não nos fazemos compreender correctamente e com isso causamos sofrimento/mau estar nos outros...
Hoje almocei com um grupo de amigos de uma amiga minha, no meio da conversa acho se passou algo assim comigo... “mia culpa” claro está... não disse o que queria dizer, ou talvez o tenha feito mas de uma forma bastante tosca... o problema é que em grupo poucas vezes temos possibilidade de reformular as nossas ideias... nestas ocasiões dava jeito poder parar o tempo e fazer “rewind”...
Em relação aos “gostos e boçalidade”, passa-se exactamente o mesmo, com a diferença que aqui é mais difícil, não só “disfarçar” o mau como “aparentar” o bom e definitivamente não concordo que seja uma questão de
CONTEXTO.
Com bastantes reticências, pois é uma análise muito complexa que não estou de todo capacitado para fazer, podemos dizer que uma pessoa é má ou grosseira, tem bom ou mau gosto porque o meio onde foi criada assim a educou, estamos assim a criar um
CONTEXTO para o facto dela ser o que é.
Não podemos no entanto criar um
CONTEXTO para os critérios que nos levam a considerar uma determinada acção má/boa/grosseira/simpática ou algo belo ou feio, estes são conceitos base em cada sociedade e são-nos passados de uma forma quase genética.
Admito que, sendo conceitos que podem variar de sociedade para sociedade, o que é mau para o “Paulo” poderá não o ser para o “Zatoichi” e vice-versa...
- à laia de exemplo na China é considerado bonito quem tem orelhas grandes, pois é sinal de riqueza, por cá chamamo-lhes “Dumbo”.
... no entanto dentro de uma mesma sociedade os conceitos não deveriam mudar e como tal não deveriam ser passíveis de por em
CONTEXTO.
Concluindo, embora concorde que devemos procurar colocar tudo em
CONTEXTO, para mim há coisas que não se podem ou pelo menos não deveriam necessitar de serem colocadas em
CONTEXTO, nestes casos o problema é do
EMISSOR e não da comunicação.
Fui espreitar os links que me enviaste... e achei-os mais ou menos banais excepto o “Diabo no Corpo” da SD, sobre quem diria... “mulherzinha inteligente, né?”.
Tenho estado a ler (aliás estou a acabar...), “Em busca do Carneiro Selvagem” de Haruki Murakami, é um conto simples mas muito interessante e muito bem escrito... recomenda-se!
De seguida vou ler “Norwegian Wood” do mesmo autor... a ver vamos...
Fizeste-me uma pergunta muito difícil de responder, “
O valor da vida humana nas sociedades orientais”, e para a qual não tenho conhecimentos suficientes para te responder condignamente...
O Oriente, é muito vasto e as suas civilizações tremendamente mais antigas que as do Ocidente, na verdade em países gigantes como a China e a Índia é necessário um especialista apenas para conseguir listar as línguas e dialectos que se falam por lá.
Os valores básicos das sociedades, entre os quais o
Valor da Vida (não só a humana) estão intrinsecamente ligados às religiões praticadas por esses povos.
No Oriente encontramos, Hindús, Budistas, Taoistas, Xintuistas, Cristãos e Mulçulmanos, bem como um sem número de seitas e cultos de caris local, pelo que não é de estranhar que o conceito do
Valor da Vida varie da mesma forma.
Há no entanto um outro factor que eu diria, ser neste caso, tão ou mais importante que a religião... a forma como os indivíduos se vêm e se “anulam” em função da sociedade.
No Oriente em contraste com o Ocidente, fomenta-se a negação do
EU. O indivíduo e o individual é desvalorizado em prol do grupo e do social. As convenções são mais importantes que as vontades. Os mortos são tão ou mais importantes que os vivos. Os animais e plantas são venerados como divindades...
Respondendo finalmente à tua pergunta... pelos padrões Ocidentais, o
Valor da Vida Humana no Oriente pode parecer baixo, no entanto e levando em conta que por lá a
Vida Humana está na maioria dos casos ao mesmo nível que todas as
Outras Vidas, então eu diria que o conceito se me apresenta como mais justo e correcto.
Fica bem!...
PS: E tu? O que é que andas a ler?