quinta-feira, 1 de outubro de 2009

culinária

Para além de ser uma arte, é uma espécie de terapia para mim. Não que tenha algum talento especial para a cozinha, mas enquanto apuro sabores e me delicio com cheiros e texturas ou choro com a cebola, espanto os meus males e alimento o corpo e a alma.
Gosto de inventar, raramente consigo seguir uma receita certinha, ou porque não tenho ingredientes ou porque me apetece experimentar alguma coisa diferente. Nem sempre corre bem, uma vez queria fazer uma sopa de cerejas mas já não havia cerejas, então lembrei-me das amoras. Andei uma hora a apanhá-las (apanhando e comendo demora mais tempo) e esmerei-me na preparação. O prato ficou tão apelativo que não resisti a fotografá-lo.
Depois quando finalmente chegou a parte da degustação, um esgar de desagrado meteu-me a língua para fora – estava intragável!

Um dia destes um amigo enviou-me umas fotos de um doce de maçã que ele fez. Sem dúvida que a vista desempenha um papel importantíssimo no mundo dos sabores. Não se come apenas com a boca, come-se com os olhos, com o nariz, com os ouvidos e com as mãos. Come-se com todos os sentidos. As imagens apelaram bastante para o meu paladar e comecei a salivar – tinha de provar!
Então num dia de neura com algum tempo nas mãos, decidi pôr mãos à obra e reunir ingredientes.
Necessitava de maçãs, uma meia dúzia. Como ainda não é tempo de reinetas, seleccionei apenas uma, ainda bastante rija e verde (gosto de roê-las assim, ácidas, bem rijas) e uma ou duas vermelhas, o resto era daquelas amarelas docinhas, de polpa muito branquinha, bravo esmolfe. A receita falava em 150g farinha e eu pensei que era capaz de ficar bom Maizena mas como só tinha um pouco, o resto foi farinha de trigo. Falava também em 200 g de açúcar, eu coloquei um pouco menos porque decidi fazer metade com açúcar normal e outra metade com açúcar louro.
Cortei as maçãs em cubinhos e reguei-as com sumo de dois limões (na receita dizia meio limão, mas eles eram muito pequeninos e pouco sumarentos). Levei-as ao lume com um pau de canela e metade do açúcar, até cozerem um pouco formando uma papa, mas não completamente desfeitas, para se sentir ainda os cubinhos.
Depois misturei a farinha com o resto do açúcar e cortei 125g de margarina (mais coisa, menos coisa) em cubos pequeninos e envolvi tudo.
Besuntei um recipiente de vidro com margarina e coloquei a mistela das maçãs lá para dentro. Depois polvilhei com a outra mistela da farinha e açúcar e margarina.

Levei ao forno ¼ de hora, até a parte de cima ficar ensopada e douradinha e provei assim mesmo, quentinha. Suspeito que quando a minha avó dizia que fazia dor de barriga comer bolos quentes era apenas com o intuito de eles durarem até estarem frios… a mim não me fez mal nenhum, pelo contrário, soube mesmo bem trincar aquela parte estaladiça em cima e depois a parte gelatinosa da maçã por baixo. Este doce é uma espécie de tarte invertida, adorei e decidi tirar umas fotos, que ao contrário da primeira, não faz justiça ao bem que me soube:
Enquanto comentava com o meu amigo que aquilo era capaz de ficar bom com canela polvilhada, ele admitiu que se tinha esquecido de mencionar esse (pequeno) detalhe. Inclusivamente, pode-se polvilhar com canela a mistela de maçã antes de levar com a mistela de farinha antes de ir ao forno.

Mham, mham, ainda sobrou alguma coisa depois de arrefecido, foi para o frigorífico e também é bem bom frio! E quem comeu, não se queixou… ao contrário de algumas experiências que às vezes faço e que sou a única pessoa que gosta…

Mas o gosto educa-se, e embora não seja gourmet, aprendi a gostar de pimentos e de azeitonas. Framboesa e feijão verde é que ainda não (a não ser se forem peixinhos da horta). Por vezes são as combinações que se fazem que eu não gosto (arroz de tomate com pimento, sopa de feijão verde com cenoura, blherrrrg) de resto, estou sempre pronta a reavaliar os meus gostos e a descobrir novos sabores.

Bem, isto está a deixar-me com fome…
Mas e tu, queres falar dos teus gostos culinários?

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