Lembro-me nitidamente, estava a acabar de adolescer.
Nove e tal da noite, num desses cybercafés que floresciam na altura, com umas colegas.
Windows 95, mIRC, que coisa tão arcaica, ainda não tinha feito amizade com os computadores.
Fireworks foi o que mais me despertou a atenção e toca a meter conversa.
Escrevi qualquer coisa como: “Fireworks, que bom! Estou mesmo a precisar de efervescer!” A partir daí desenrolou-se o típico “De onde és, como te chamas, que idade tens, o que fazes” disso só me lembro que eu tinha o mesmo nome que um antigo amor. Depois silêncio. Ou melhor, vazio. Nem uma letrinha mais. O arcaico modem 56 Kb decidiu pregar-nos uma partida e perdi o contacto.
Foi um encontro muito breve com o desconhecido. O primeiro. De muitos. Mas nunca me esqueci deste porque foi o primeiro. Nunca mais me esqueço daquela excitação pueril que me levava sangue a galopar pelo corpo, os dedos atrapalhados à procura das teclas certas, a impaciência…
Quero voltar a sentir o que senti. Mas de uma forma mais calma e consciente. Quero aquela sensação intensa de desbravar o desconhecido, quero que deixe de o ser para se tornar agradavelmente familiar. Agora estou muito mais exigente e não me contento com pouco. Quero aprender, quero melhorar. Quero rir, quero chorar, quero sentir com todos os sentidos. Quero tudo, e estou na disposição de retribuir.
Onde estás tu, Fireworks? Estou a precisar de efervescer… outra vez.
Escrevi isto há uns dois anos. É impressionante como muitos dos objectivos que escrevo acabam por se concretizar. Já te tinha falado dessa característica “prenunciadora” que encontro na escrita. Provavelmente é apenas uma forma de organizar intenções que tem sempre de ser complementada com uma forma de agir. Mas como te disse, mais interessante que este fogo de artifício (que como todo o fogo que se preze é espectacular, arrebatador e efémero) é redescobrir o encanto das pessoas. Continuamente. Depois do entusiasmo inicial, quando a novidade se transforma em algo banal, é aí que é preciso saber se vale a pena redescobrir ou não. Ir mais além da epiderme, descascando como se faz com as cebolas, penetrando até ao coração. É claro que isso não depende só de nós, tem de haver alguma colaboração do outro lado, alguma comunicação, mesmo que inconsciente.
Antes de chegar ao texto, deixa-me só fazer uma consideraçaõzita em relação às estórias/histórias. Segundo o que pude apurar, a grafia original é estória, mas hoje em dia é apenas usada para referenciar narrativas ou pequenos contos de ficção. Nesse sentido, o texto pode ser referido como estória, pois não relata acontecimentos reais. Claro que isso também depende do que se entende como real, foi baseado em factos reais, em sensações reais, mas escrito de forma encriptada, com peças que encaixam de forma diferente da realidade. Uma espécie de salgalhada apurada, uma caldeirada de experiências e reflexões.
Encontrei uma forma relativamente simples de protecção contra sensações e sentimentos traiçoeiros, daqueles que nos fazem questionar as coisas, agir de forma estranha e apanhar grandes desilusões: não posso esperar que as minhas expectativas correspondam à realidade. Tenho de perceber a fronteira que existe, tenho de delineá-la bem. Porque não vou deixar de esperar ou esperar menos para não me desiludir, não faz sentido. Também não me posso desiludir sempre que as minhas expectativas forem irreais. Então tenho de traçar muito bem essa fronteira.
Falaste de exposição, de eu me expôr demasiado e eu disse que me exponho na medida que quero. Claro que não posso controlar a forma como as pessoas me interpretam, mas não estou muito preocupada com isso. Preocupo-me com o que as pessoas de quem gosto pensam, preocupo-me em não criar conflitos nem mal entendidos, o resto, cada qual é livre de pensar o que quiser. Na selva netiana, sinto alguma necessidade de me proteger dos predadores, de criar algumas armadilhas e divertir-me com isso. É uma espécie de jogo do gato e do rato, não me tenho dado mal.
Mas é como te disse, expor o corpo é muito mais fácil e seguro do que expor a alma.Tenho andado a pensar nisto, a investigar alguns exemplos, quero voltar aqui mais à frente.
Não concordo contigo quando dizes que só presencialmente se consegue química. Já o disse anteriormente, as palavras estimulam os sentidos, e se isso não é química a funcionar, então temos conceitos diferentes sobre isso. Agora sou capaz de concordar que uma coisa é a química das ideias e outra é a química do corpo, (apesar das ideias poderem estimular o corpo) nem sempre existe sintonia:
Por que razão é que nos excitamos pelo simples facto de olhar para alguém com um aspecto interessante?
Por que razão é que uma pessoa intelectualmente excitante, pode perfeitamente não interessar sexualmente?
Não há razão, não pode haver. A não ser o raio da Biologia. Mas isso será Razão?
Folheio uma revista e o meu olhar fica preso a uma impressão de alguém com uns olhos magnéticos. Fico ali a olhar para aqueles olhos durante uns segundos, a percorrer com os meus o corpo que os transporta, antes de reparar na parvoíce que isso é.
Conheço na net alguém que partilha os mesmos interesses que eu, que me excita intelectualmente e depois quando nos encontramos pessoalmente não há química nenhuma.
Mas o que é isto?! Parece que o meu corpo anda a gozar comigo. Ó MONTE DE CÉLULAS, ORGANIZA-TE!!
É uma coisa que me intriga, deveras. Que raio de selecção é esta que eu faço? Que tipo de pessoas me interessam como parceiros sexuais? Têm de ter o que eu acho que é "compatibilidade física". Têm de ter o que eu acho que é "compatibilidade intelectual". Não será isto exigência a mais? Mas que parvoíce de selectividade é esta, alguém me explica?!
Eu já percebi que as coisas não resultam quando vou lá só porque a pessoa em questão é fisicamente interessante. Também já percebi não resultam quando a pessoa é "apenas" intelectualmente interessante. E também já percebi que às vezes demora algum tempo, mas uma pessoa que à partida me empolgava, depois de revelar o que lhe vai lá dentro apaga-me o tesão; e também já aconteceu uma pessoa que não me dizia nada fisicamente, depois de se revelar um pouco mais intelectualmente, dá-me um tesão desgraçado. Custa-me aceitar isto. Não aceito. Acho que devia ter o direito de me entusiasmar por quem eu quisesse e as coisas resultarem. Mas sinto que não tenho. É claro que são precisas (pelo menos) duas pessoas para dançar tango, e eu não sou inteiramente responsável por as coisas não resultarem, mas até que ponto é que eu devo ceder? Até que ponto posso tolerar comportamentos que não me agradam?
O sexo atrapalha a vida…
Já escrevi isto há mais de um ano e continuo sem grandes respostas. Mas não quero com isto passar a ideia de que só ando pela net à procura de parceiros sexuais, ou que esse é o grande objectivo. Felizmente estou muito bem servida. O que eu quero é perceber como é que isto tudo funciona e ter algum prazer durante o processo. O grande objectivo não é o sexo, é o Prazer. E não conheço maior prazer que conhecer e reconhecer.
Falta ainda mostrares o que gostas tu de ler e se as minhas sugestões te dizem alguma coisa… esperarei.
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